26/05/23

Bardo VIII : Vida

 

Vida
( Harmonia )


Um golpe duro de fouce
mutilara-lhe a juventude,
segara-lhe a alegria.

Passam os anos,
enruga-se a pel,
repousa a mirada,
minguam as forças.

Contra uma pena espotreada
sua alma errante, moribunda,
arrincou em mil anacos
o pesar que a consumia.

Alá quedam seus queixumes,
suas dores, seus pesares
e uma moi pessada losa
de moi fondo sofrimento.

Sua séria solenidade,
esperando o acontecemento,
enchia-a de dignidade
cum orgulho contido.

Um delicado cheiro
chegava-lhe co morno vento.
Num sonho longo dum dia
ía passando-lhe a vida.

Uma noite de amargura,
umas horas de dor,
um desatino, um tropeço,
levou-na ao seu destino.

Apareceu bulindo a morte,
fendendo-lhe os sonhos,
fenecendo-lhe impolutos,
num calado e frio adeus.

Seu agónico sorriso
despedindo-se de nós,
mudou pesar em alegria
ao rematar sua jornada.

No cabo do caminho
é a alegria da chegada.
No cabo do caminho
está o fim das nossas dores.

Ogalhá sonhes comigo
coma eu sonho convosco,
para poder crer que vivo
mergulhado no teu Mundo.



A Maria Armonia in memoriam, barda de Santomé



Moradelha editora




08/04/23

Pregom 114 : Vidas paralelas

 

Vidas paralelas


Mulher misteriosa
caminha gabacha,
siguindo meus passos
pola rua do passeio.

Coa azul alegria
da tarde de Maio,
caminho da alameda.

Na mirada leva,
da mar calma o sossego
e a paz duma pomba.

Duas vidas paralelas
em mundos disjuntos,
num jardim partilhado.




Moradelha editora




07/02/23

Pregom 113 : Merecer o ceo


 
Merecer o ceo


Os atos sejam sobrados
e os gestos generosos,
caminhar co peito erguido,
sendo desinteressado.

As faturas todas pagas
e os pecados perdoados,
é o que um mais quigera
para merecer o ceo.

Nom lhe chamo cobardia
ao pecar de ser prudente,
nim chamarei-lhe insubmisom
ao espírito indomável.

Nom lhe chamarei violéncia
defender com paz sem fúria
as causas que sejas justas,
loitando por um ideal.




Moradelha editora




28/01/23

Pregom 112 : Porta misteriosa

 

Porta misteriosa


A boca da Pedra Furada
é uma porta misteriosa.

Sintem-se passos de pantasmas,
muitos silenciosos passos.
Luzes, sombras, escuredade,
nascementos, vida e morte.

Raízes desesperadas
turrando pola sua vida,
apertando-se a uma peneda,
esparegendo suas rugas.

Vim mover-se à pedra
diante mesmo de mim 
e morder na terra,
num monte churido de carqueixas.

Terra, fábrica de espíritos puros;
almas que viajaram eternamente
polo Universo infinito.

E muitas cousas veredes :
Correntes de auga cara riba,
árvores de lume perpétuo,
meninhos com ás,
almas pelegrinas buscando albergue.

Sentado en riba da Pedra Furada
o meu Mundo gira arredor de mim,
como um alógrove,
levado pola inércia
do seu espírito
e sua consciéncia cósmica.

Cantava um ruixinol
cum trino de poesia
e na voz dum meninho
escuitava-se a inocéncia.




Moradelha editora




27/01/23

Pregom 111 : Alta tensom

 
Alta tensom


Sentia a moléstia
dum lixo num olho.
Era sua preséncia
uma pele de noz
apegada no ceo da boca.

Uma semente de figo
entros dentes atrapada.
O espinho duma silva
na iema dum dedo.

Quando enfurrunhava
era picada de vespa
no médio do calcanhar.
Sacudidura de tabao.




Moradelha editora




13/12/22

Pregom 110 : Falsas sinais

 
Falsas sinais 


Nom podo ser confiante
de pantasmas e anónimos.
Tés que seguir umas sinais, 
sabendo-as argalhadas ?.

Até onde chega o discernimento ?.
Que barreiras hai que chimpar ?.
Hai um instinto harmonioso ?.
Somos um hertziano recetor ?.

A paixom gera algum campo,
elétrico ou térmico ?,
magnético ou gravitatório,
frequéncias nos ouvidos ?.

Fluxos polos pés e pernas,
polos dedos das mans, nos braços;
correntes nos hemisférios,
zumbidos no coraçom ?.

Decodificarei a modinho
as sinais, verdadeiras ou nom,
que meu pobre espírito,
mailo miolo, dé decifrado.

🌟



Moradelha editora




28/10/22

Pregom 109 : Memória

 

Memória


O pensamento que nasce num sonho
e que da memória desaparece,
até que algumha cousa que acontece,
recorda o pensamento mailo sonho.

A tenrura que nasce na nossa alma
pola contemplaçom duma beleza
e que inesperada a nós se aparece,
gravando-se-nos no miolo.

Namentres que no Mundo amence
e teu coraçom nom fenece,
as tuas alegrias sempre medram
e tés o sorriso constante.

Nossos recordos imos ir tecendo,
alimentado com eles os sonhos,
e tapando as penas co pelo cano
desfazemos ataduras das mágoas.

Que nom me quede nunca sem memória,
de súpeto sem história, ser ninguém
e nom ter cousa algumha para contar.
Que nom me esqueçam as auroras.

🌟



Moradelha editora




19/10/22

Pregom 108 : Siléncio e verdade

 

Siléncio e verdade


Somente é obrigatório
dizer a verdade,
quando se fala.

Temos direito 
a nom dizer verdade,
estar calado.

Mas entom o siléncio
oculta a verdade,
queda esquecida.

O siléncio
é um caixom
de verdade escondida
no fondo da gorja,
pechado com alentos
e suspiros.

A verdade
brilha nos beiços,
relumbra nos olhos,
acaroa coas mans
e tem colorido,
flutua no ar.

A verdade tem
sempre problemas :
Falam os olhos,
a mirada fala,
as mans falam
e o corpo está cheio
de linguagens,
de mensagens;
todo o corpo fala.

A verdade sabe ler
na luz e na escuridade.
O que brilha demais,
apaga-o.
O que tem muita negrura,
acende-o.

O siléncio fala
é fala forte,
ressoa por onde passa
quando a cousa vai quente.

O siléncio e um trono
na tormenta
quando esconde mentiras.
É um raio
no médio duma traiçom.

O siléncio é a Nada
que todo o destapa,
é anterior ao Big Bang,
anterior ò Verbo.
O siléncio é o Tao,
a Nai do Mundo.

Penso em vós
gardando siléncio
pra nom perder detalhe
do que flue,
do que arde,
do que fai tremer 
à minha alma.

Penso em vós 
cum amor de verdade,
silencioso,
com muito medo
que meu corpo estrale.

Tenho medo
em romper o siléncio,
medo de que estoupe
o Mundo
por minha causa,
com tanto querer.
Penso que 
ao ver-vos
hei de morrer.

🌟



Moradelha editora




15/10/22

Pregom 107 : Verdes recordos

 

Verdes recordos,
esperanças


1
Amores verdes de loureiro,
de impossível verde desamor,
dum verde demasiado forte.

2
Dos prados verdes em repouso
entras montanhas regaladas.
Portas verdes nos corredores.

3
Fiestras verdes da juventude,
de aires renovados, alegres,
de muitas fermosas histórias.

4
Recordos verdes limonados,
verde limom, limom de estrela,
a lima dum Sol hiperbóreo.

5
Amores de verdes boreais
com mensagens do Sol e do além,
contidos nos raios solares.

6
Sedutora luz das estrelas,
luz que todo amor alumea,
a verde luz da Nai do Mundo.

7
Deusa das nossas terras verdes,
dos verdes castros, nossa Deusa,
a vida da verde Brigantia.

8
Memória de verde saudade,
de oculta morrinha calada,
de ledícia, tenro recordo.

9
Sonhos de fumes dissolvidos
em enigmáticas brétemas,
co fumegar da erva de campo.

10
Verde duma viva esperança,
envolvida na verde paixom
dos azivros de primavera.

11
Pendentes de verde esmeralda,
de ágatas com augas verdes
e de transparentes ilusons.

12
O verdor da frescura verde.
Sonhos de verde luminoso,
dos eidos verdes remolhados.

13
Verde verdadeiro, de paixom,
de amores i esperança eternos,
baixo as estrelas, juramentos.

14
Amor de verdes impossíveis,
sonhos dum excessivo verde
em tempos de fogosas rosas.

15
Tempo de utópica vontade,
de doces e verdes recordos,
o tempo da verde esperança.

🌟



Moradelha editora




15/09/22

Pregom 106 : Cabeçal

 

Cabeçal


Se vés que estou dormente,
colhes a minha chave
da caixa de Pandora
em baixo do cabeçal.

No seu fondo atoparás
uma boneca verde,
que chama-se Esperança;
aperta-la bem forte.

Entom durme ti tamém;
quando estejas durmindo,
pergunta-lhe a Morfeu
se podes vir onda mim.

El diráche quem som eu
e onde me atoparás.
Assim será como nós
viviremos no Olimpo.

🌟



Moradelha editora




04/09/22

Pregom 104 : Cores da auga

 

Cores da auga


Numa lagoa verde
hai trés cisnes brancos
e um cisne negro.

E num rio geado,
um patinho pardo
que patina e corre.

Prateados salgueiros
erguem as suas ponlas
ondas augas claras
do nosso ribeiro,
que correm,
que descansan,
que remansam.

Rios e fontanas
e fontes a mares,
lagos e lagoas,
choivas polos regos
e regatos.

Arroios nos vales,
terra regantia
de poços e poças,
arroiadas,
nascementos.

Granizo e saraiva,
geos e geadas,
brétemas do amencer,
branca neve.

Fervenzas de escuma
repenicam doces
nas pedras dos muinhos,
sua música.

Grises nevoeiras,
nevoas que fumegam,
nuve negra,
auga mera.

Bágoas de meninho,
bagos com rocio,
arcos da velha
entros milhos.

Trés quartos da Terra
enchidos por bágoas,
de mim bágoas,
sal e augas.

Amores e paixom,
charco e charca,
poço e poça,
moço e moça,
gota ou pinga.

Escarchas e geos,
brilhos de folerpas,
mananciales,
orvalhadas.

Augas milagreiras,
de xofre marelas,
ferrosas de rubi
ou lameiras.

Augas entupidas,
florcinhas de junco
nadam na marisma,
nas junqueiras.

Rio e tributário
caminho do golfo
da cor esperança,
sua baía.

Um pai e seu filho
vam caminho do mar,
descanso turquesa,
na oceania.

🌟



Moradelha editora




24/08/22

Pregom 103 : Mergulhado

 

Mergulhado
na tua alma


Hoje durmirei convosco,
pide-me-o o pensamento,
nom poderei evita-lo,
a razom nom pinta nada.

Mergulhado na tua alma
fragmentarei-me em estrelas,
e coa tua luz tam radiante
apertarei o Universo.

E no teu peito tam quente,
terei vento perfumado,
com música magnética
e a tua doçura presente.

Um bafejo de siléncio,
uma intriga e um mistério,
sem saber se é que sonho
ou se habito no ceo.

🌟



Moradelha editora




23/08/22

Pregom 102 : Disfarces

 

Disfarces


Vendedores de prazeres,
de floristas disfarzados,
aponhendo-se escritores
e ofrecendo afrodisíacos
no aparador da luxúria.
Jogadores do ocultismo,
buscadores de lascívia,
cambiando o amor por cartos.
Perfumes de narcóticos
para que espantem aos noxos.
Uns disfarces coloridos
com ornatos dos entroidos.
Tocata e fuga co prémio,
coa riqueza, sem receios.
Atores de pomposa obra,
escenários luxuriosos.
Ao gusto dumas carteiras,
os amores confitados,
cheia de bicos comprados
polos anónimos leitos.

🌟



Moradelha editora




02/07/22

Pregom 101 : Marquesinha

 

Marquesinha


Um home de altos voos,
mira-me de reolho,
do braço duma mulher,
que sequer fijo esguelho. 

Escusou olhar para mim,
dona de alto copete
e de chapéu florido.
Dama moi distinguida.

Ela nada num mar de cartos 
i eu na auga das fontes,
em pozas e fervenças,
entras leiras de milho.

Com elegante vestimenta,
ilustrada palavra
e delicados movimentos
de frágil boneca de louça.

Nossa marquesinha é uma mulher
que gasta colónia custosa
e o dia da primeira feira
canta a coro na igreja.

E fai obras de caridade,
nom tem pecado ningum,
sempre os tem perdoados.
É uma santa onde as haja.

Eu já sei, marquesinha,
som pessoa ordinária, 
aborrida e mediocre,
nom che convem minha amizade.

Levarei-no com resinaçom
o nom ser merecedor de vós,
sequer do vosso saúdo.
Do querer nom falemos.

🌟



Moradelha editora




12/01/21

Bardo VII : Deusa poetisa

 

Deusa poetisa
perigosa doçura


1
Os amargos segredos
que gardas no coraçom,
velaí as armas som,
duma invencível Deusa.

2
Som coitelos que ardem
no teu divino peito,
pra matar os pesares
e rachar o pasado.

3
A feiticeira do Amor,
que sae dum pesadelo,
cumha estampa imponente,
caindo o Mundo aos seus pés.

4
Olhos de loba em ciúme,
jeito de gram Matriarca,
espertas coa tua força,
escampas do ceo as nuvens.

5
Beleza e juventude,
nova na madureza,
brilha coma uma estrela
e as almas adormece.

6
A ledícia do Mundo,
cumha face de seda.
Tem da Lua o sorriso
e um encanto de meiga.

7
Ramalhete de rosas,
onde chegas pareces,
alumeando a quem miras,
bem-dizindo a quem tocas.

8
Tua armadura de ouro,
relumbra no teu peito.
O que todos adoram
é a tua divina estampa.

9
Vira-te nos meus sonhos,
ando presto a buscar-te
e quem serás saberei,
se um dia eu te atopo.

10
Pilotando tua nave
chegarás ao meu porto,
quando vendo-te ao longe,
voarei o teu encontro.

11
E rendidinho aos teus pés,
falareiche devoto :
Minha Deusa poeta,
meu amor, minha vida.

12
É sua man quem escreve
o que eu lhe quero dizer.
Seu coraçom lateja
no meu peito bem forte.

13
Eu agardo por Ela,
pra ver um Novo Mundo,
pra morrer nos seus beiços,
renascer nos seus braços.

🌟



Moradelha editora




09/01/21

Pregom 100 : Vive, esperança

 

Vive, esperança


1
Desbordada alegria
entre desconhecidos.
Os seus corpos sem rostro,
dous amantes nas ondas.

2
Amores de pantalha,
um amor de fachada.
Comprensions dubitosas
òs queixumes e penas.

3
Alguns consehos podres,
cheios de bicos a granel.
Voces desconhecidas,
mirada inexistente.

4
Uns acenos valeiros
e apertas num debuxo
com tintas regaladas,
pra retratos prestados.

5
Copyright de soberba,
autoestima fictícia.
Aviso a navegantes :
o que vedes nom é meu.

6
Ula ! amizade real !,
os bicos dados na pel,
os tremores do amor,
a vergonça infantil.

7
Os chamados profetas,
esses gurus sem rostro
ou paisagem por cara,
metedores de medo.

8
Nuvens melancólicas,
recordos que nom forom,
dum pasado que nom foi,
nim tam sequer ideal.

9
Esse Mundo inventado,
coma um conto calquera,
dando-lhe muito brilho
cum velho farricalho.

10
Os deportes de salom,
baile de mascarilhas,
muito fume de estrelas
num aire que te afoga.

11
Pesadelos na rede,
som choiva multimédia,
uma insónia estressante,
uma neve artificial.

12
Íntimos do direto,
dos messagens ocultos,
entre desconhecidos.
Confessions anónimas.

13
Uma feira de ánimas
e de persoalidades.
Som negócios de fume,
uns mercados nefastos.

14
Intercanviar mentidas,
traficando com poemas.
Tapadeira de sonhos
e de complicidades.

15
Cheia de provocacions,
bem delas trapalheiras.
Uma cheia de insinuacions,
muitas envelinadas.

16
Amizades sem olhos, 
que em porrancho na ducha,
compartem o seu sabom
e sem poder-se tocar.

17
Cegos cos olhos vivos,
fermosos corpos virtuais.
Bicos de corta e pega,
que entre escumas desfam-se.

18
Vós saberedes de mim
pola voz regalada.
Sempre levo conmigo
o micrófono aberto.

19
Tamém a minha webcam,
conmigo sempre viaja.
Escusa bateria,
arrinca automática.

20
Ao ter boa companhia,
deteta a sua preséncia.
Reconhece um amigo
acendendo a luz do flash.

21
Quero ir polo Mundo
sem que nada me oculte.
Quero ser transparente
como é um meninho.

22
Ensinar meus defeitos,
sem reparar em ninguém.
Hei errar quando cumpra,
tendo tino e nom mancar.

23
Ulos ! beiços ardendo !,
e as mans tremorosas,
as bágoas cristalinas,
os bicos namorados.

24
Ulo ! o teu caminhar.
Ula ! a sexta feira.
e ula minha Deusa ?,
radiante médio-dia.

25
Eu vestim-me de verde
para darche uma aperta
e levo pra ti na man, 
sete rosinhas brancas.

26
Quando vejas meus olhos,
eu quero que ti vejas
a luz da esperança,
dumha ilusom eterna.

27
Quando mires para mim,
eu ja sei que em ti verei
a imponente figura
da minha Nai do Mundo.

28
Sempre quero ver em ti
o teu jeito de Musa.
Sempre quero ver em ti,
um sorriso de estrela.

🌟






Moradelha editora




01/01/21

Pregom 98 : Manoel



 Manoel


1
Choravam os teus beiços
umas bágoas vermelhas.
Quem fora Manoel Curros
para poder ama-las.

2
Cos seus versos sorve-las,
num amor imposível,
como augas que saloucam,
por ideal incrível.

3
Para cativas morrer
nas minhas mans desertas,
contemplando a lagoa
de Manoel Bueno mártir.

4
Uma doce morada
para as augas salgadas,
que nom poidera bicar
uma alma namorada.

5
Hoje é um de janeiro
do nosso ano de Gloria,
é o dia primeiro
dum porvir de esperança.

6
Destino inexorável,
é o que eu sonho será.
No teu pelo um caravel,
cheirando-o eu a manhá.

7
Pois volvendo ao sendeiro,
que me leva direito,
numha vida trazada
polo lápis mágico.

8
Que apuntando ao caminho,
que me leva sem perda,
que sem presa vou indo,
que me leva sem pausa.

9
Pra fundir-me em teu peito
e sem presa nim pausa
devorar teu alento,
habitar minha musa.

10
Entom tua man hei colher,
que me fura por dentro
e sentir a tua voce,
pra morrer de contento.

11
Hei os teus olhos mirar,
dous luzeiros ardendo.
A tua alma, apertar,
beber-me o Universo.

12
Eu pola tua man, Manoel,
escreveria uns versos,
que seriam eternos,
que saberiam ò mel.

🌟



Moradelha editora




25/12/20

Pregom 96 : Siléncio do Nadal

 

Siléncio do Nadal
Universo calado



1
Escuitar teu siléncio,
doce son inaudível,
é música celestial
ondas de amor pola pel.

2
Uns susurros na mente,
calor do Lar nos braços,
uma alma aperta-me
no Universo calado.

3
Sinto-te no meu ventre,
como as minhas entranhas,
e tremem os meus beiços
co teu coraçom puro.

4
Coa alegria ao sentir-te, 
pechando-se meus olhos,
flutuo no ar, da tua man,
com familiar carícia.

5
Com memória de aromas
e suspiros eternos,
com divinas sensacions,
da humanidade a infáncia.

6
O principio dos tempos,
os recordos do néctar,
peito da Nai do Mundo,
arrepiado coraçom.

7
Formigas no pescozo,
calambreira no sexo,
é o climax do Mundo,
é um parto natural.

8
Um estoupo do tempo,
a mesma tosse de Deus,
o amor duma Deusa,
um éxtase que é mortal.

9
Os teus braços me matam,
devora-me o siléncio
e vou morrendo de amor
eterno, dentro de ti.

10
É obrigado cumplir,
hei fazer peniténcia,
muito tempo sem ouvir,
pois tua verba siléncia.

11
Nom poder mirar pra ti,
nim sequer nos meus sonhos,
nom seria siléncio,
senom a morte em vida.

12
Seria escuridade,
insofrível castigo,
um tormento e tortura,
toleria, amargura.

13
Esta vida perdoo,
por uma aperta eterna.
Vida que foi caminho
para estar a tua beira.

14
E nascem dous meninhos
em duas puntas do Mundo.
Renasce a humanidade,
amence um Novo Mundo.


🌟



Moradelha editora



12/12/20

Pregom 92 : Mundo em garda

 
Mundo em garda
(agardando)


Eu nom me ponho em garda contra o Mundo,
que se ponha o Mundo em garda contra mim.
Ja traguei i enviei tudo o veleno,
que me botou, quando perdido me vim.

Quando cuspirei pola minha língua
ou pola minha pluma, todo esse fel ?.
O Mundo quedará sem sua armadura,
em garda contra mim, nom há valer-lhe.

Por qué é tam desafiante o Mundo ?
e a quem lhe tem medo todo o mundo ?
Tempo há que meu próprio Mundo tenho
i é duma cor branca, de neve pura.

É uma gram folerpa que vai flutuando
ingraveda, seus cristais cheios cores,
coma um arco da velha presentando-se,
a luz do vento solar, reflejando.

O meu Mundo que fai-se-me doce,
coa tua preséncia, na minha vida.
Adoro alí, onde nasce uma estrela,
entro ceo e o mar, marelo amencer.

Onde atoparei a eterna morada,
onde por sempre hei de habitar com Ela,
coa nossa divinidade céltica,
nossa Deusa do amor e da poesia. 


***


Moradelha editora




29/11/20

Pregom 88 : A minha silveira


 A minha silveira


1
Nom pasedes pola fouce
minha fermosa silveira,
nim lhe deades um couce
ao agarimo da sobreira.

2
Mantenza de paxarinhos
que com tino se lhe pousam,
engurrunha os seus espichos
pra que aninhar nela poidam.

3
Do meu caminho alegria,
um vergel das abelhinhas,
quando vem a primavera,
ela churindo rebenta.

4
Nom matedes as suas cores,
verde, roja e negra froita
brancas e fértiles flores,
polo setembro colheita.

5
Nom trepedes a silveira,
defende-se de calquera
que loitar com ela queira,
agardunha coma fera.

6
Se matades minhas silvas
matades-me a mim a vida
gardai a fouce pra sega
nom seguedes a silveira.

7
Se eu uma chiba tivera,
daria-lhe os seus retonos
e as suas crezenzas daria
e assim limpar os caminhos.

8
Se me chimpades as silvas
nom virám as bolboretas,
nom virám as primaveras
ata o caminho das veigas.

9
Enfermará a sobreira
coa gelada do inverno,
e nom terám abelotas
as rolinhas pra o seu ninho.

10
Nim lhes medraram ovinhos
e morreram de tristuras,
sem lhes nascerem pitinhos
ò quedarem sem amoras.

11
Nom lhe pasedes a fouce
à fermosa silveirinha,
sabendo que nom dá flores,
coma um neno berraria.

12
Sabendo nom daria froitos,
quando no tempo do outono,
eu ò meu amor lhe levo
as amoras num queipinho.

13
Nom me chimpedes as silvas
que hei de fazer marmelada
coas morinhas da silveira,
que eu herdei de Rosalia.

14
E gardarei-na num cristal,
num recuncho da adega,
e ò meu bem regalar-lhe-a
quando chegue o dia de Nadal.

15
Tamem lhe darei òs nenos
com pam milho no dia de reis,
para que nom pasem frio
entranto jogam nas airas.

16
Nom pasedes a silveira 
por uma fouce afiada,
deixai-lhe a primavera,
pois ela é minha vida.

17
Eu quero seguir vivindo,
pois de pena morreria,
se nom a vira churindo
no pé da minha sobreira.


***



Moradelha editora



12/11/20

Pregom 81 : Soidá

 Soidá


Se eu poidera apertar à soidá
e deixar o que mais quero, no ceo estar,
correria sem pensar onde ela está,
sabendo que alumea minha vida.

Se eu poidera navegar no alto mar,
levaria-te comigo soidá,
alí onde se junta o ceo e a auga,
desprecintar o nosso Lar, soidá.

Agora conformo-me co que tenho,
sabendo que há um Mundo novo, a esperar.
Hei de atopar a maneira ou jeito,
de fundir o que mais quero, sem mancar.

Se eu poidera habitar-te soidá,
pra sentir o que é a paz e amor sem par,
e morrer saturado de tenrura
i envolto na tua alma, soidá.

Se eu poidera vivir coa soidade,
ir rindo polos caminhos e cantar.
Segredos, contos e verdades contar,
disfrutando da melhor amizade.

Imagino vivindo coa soidá,
e so coas flores entom poder falar,
so auga dos regatos poder bicar,
e so o arume nos ventos apertar,
so à minha soidá poder amar.


- 🌹 - 




Moradelha editora





09/11/20

Pregom 80 : Planeta do rio Sar

 
Planeta do rio Sar
e a Estrela Rosalia


Hai estradas de cores no Planeta do Sar,
coma arcos da velha e tridimensionais.
Tem uma cúpula magnética no seu ar,
que filtra a fortíssima luz da sua estrela Nai.

Quando entras na atmosfera do gigante do Sar,
tódalas cousas som mágicas e celestiais.
So vivindo nos sonhos, nela podes entrar,
alí o Mundo move-se so coas tuas sinais.

Pode-se ver o que a tua imaginaçom queira,
o que mais che cobice, tamém pode-lo ter,
so tés que deixar-te voar à tua maneira
e aparecerá a gentinha que ti queiras ver.

Com quem queiras falar, eles onda ti viram,
podendo aparecer em todo tempo e lugar.
Teus queridinhos todos, onda ti viviram,
disfrutando as paisagens que ti queiras mirar.

Ti vivirás voando coa tua imaginaçom,
no teu próprio Mundo, no teu Planeta do Sar,
o teu Lar, feito a medida da tua ilusom.
Paradiso de sonhos, onde sem ás voar.

E sempre girando arredor de Rosalia,
a estrela amarela, a poetisa e Sol do Sar.
A luz que sai dela, enche de cores à via
que geram os arcos da velha, que fam sonhar.

Um Universo sonhado pola poetisa,
que rabeaba polas cores da sua terrinha
e sempre esforzava-se em describi-las.
Quem lhe diria, que hoje seria uma estrela.

Se botaras os teus sonhos ò vento a voar,
imaginando um Mundo de cores ideal,
feito de poesia e do que queiras levar,
entrarias alá, no Planeta do rio Sar.

                         🌟



Moradelha editora




05/11/20

Pregom 77 : A força das verbas

A força das verbas


Por fim chamou-me o meu amor,
e em vez de falar-me,
recitou-me um poema.
Eu morria de amor
ao sentir a sua voz.

Aquelas palabras suas,
aproveitando a felicitaçom,
dirom-me tanta força,
que eu choutava polos telhados.
Tanta força foi que colhim,
que eu seria capaz de fender
um toro de carvalho,
cum so golpe de machada,
apertar-me a um cepo de sobreira
e fundi-lo entros meus brazos,
entranto pensava nela.

Sentim que nom me queimava
com lume ningum,
nim com cousa algumha fervente,
nim me afogava na auga,
e poderia mergulhar
polo fondo do mar.
Podia falar cos paxarinhos,
que semelhava
que chiaram pra mim.

Quanta força tem a parola !,
meu Deus, pensei.
Quanta força tem o amor
e quanto amor
podem ter as verbas
que se dim coa ánima viva.
Saia-me um canto da gorja,
berrando-lhe aos quatro ventos,
que as rolinhas voavam
contentes arredor de mim,
e uma nuve de pombas
debuxavam coraçons no ceo.
Uns raios de sol
íam e vinham,
petando-me no peito
cum reflexo de retorno.

Abaneavam os pinheiros
ò sentirem a minha voz,
e bailavam as flores
polos jardins
coa música do vento,
e medrava a colheita
dum dia pra outro.

Tolinho de mim
nom sei se sonhava
ou estava desperto,
ou aquelo era tam só,
uma toleria de amor.
Tolinho de mim,
no daba durmido,
à espera do dia
de apertar-me a ela.
Tolo de mim, 
governei a fazenda,
coma se houvera uma boda,
esperando uma noiva,
esperando a um Deus.
Estade alerta, dizia a dita :
"... pois o Senhor virá
coma ladrom na noite."

Nom sei se sonhava
ou sonhava que sonhava,
aquelo nom podia ser certo,
e abriu-se a porta de súpeto,
cum gram resplandor,
aparecendo ela
vestidinha de branco,
e no médio do meu desconcerto,
caim redondo no instante.
Ali quedei, nom se sabe quanto,
até que espertou-me o Mundo,
lapando-me a face
co seu alouminho.

🌟



Moradelha editora

 

01/07/20

Pregom 40 : Mil bolboretas

Mil bolboretas


De ouro era o penedo,
de prata eram as augas,
e coma neve branquinho, 
aquel anjinho sentado.

Um anjo coas aas brancas,
quem estava agardando.
Giravam mil bolboretas, 
que arredor íam voando.

Ata que ao sair o Sol,
coma se aquelo fora del,
fundiu todo cos seus raios,
enviando o brilho aquel.

Porque mil já eram os dias,
levava o anjo agardando,
a que uma Deusa vinhera,
e o bicara nos beiços.

Forom uns raios de Sol
os que vinherom faze-lo,
fundindo anjo e penedo,
onde nazeu um acivro.



Moradelha editora




16/05/20

Bardo VI : Bardo da Língua


Ricardo Carvahlo
Bardo da língua



Sagitário

"Docíssima visom.
Visom angélica.
A música que soa é produto da maos celestiais,
de bocas celestiais,
que pulsam, que sopram,
orgaos, frautas de outro mundo.
Há muita gente na igreja,
mas toda é umha nuvem borrosa,
como si os meus olhos estivessem desenfocados.
O sacerdote, o seu acólito,
os padrinhos, o noivo ...
E as imagens. A Virgem do Socorro,
o Cristo dos Navegantes, Santa Luzia ...
Todos som umha confusa e ondulante massa de luz,
de som ... Nada é nédio, nada tem perfil,
todas as cousas se misturam ...
Todo é vago fundo,
indeterminado segundo termo ...
Só ela se destaca,
se perfila com replandecente precisom,
envolta em branca luz, toucada branca luz ...
Alí está de joenhos perante o altar,
com as pálpebras entornadas sobre os olhos,
de noite profundíssima, pálida e virginal.
mais fermosa que o mais fermoso sonho."


Scórpio, 1a parte, LXIX .
Ricardo Carvalho Calero

17 de Maio de 2020
Dia das Letras Galegas




Moradelha editora



25/04/20

Bardo IV : Eladio Monea


Eladio Monea
Bardo da cadea


1
Paracuellos del Jarama,
desgrazada e histórica.
A guerra civil colheu-no
com catorze aninhos alá.

2
Rapacinho de olhos azuis,
e afundidos, coma seu pai,
celestes coma as hortensas,
a cor das frores celestiais.

3
Fazedeiro e pacífico,
ainda que se cumpria,
quem se pugera diante,
calcava uma labazada.

4
Defensor dos seus queridos.
-Se estivera eiqui Eladio !,
dizia seu irmao Dario,
quando tinha algum tropezo.

5
Xosé, o seu irmao maior,
o maioral das quadrilhas,
levava-o de vrao a Castela
cos irmaos e outros da aldea.

6
Com algo mais de vinte anos,
um na cadea votouche,
seica por encobrir outros,
so, no cárcere de Ourense.

7
Aquel ano tam maldito,
esse tempo entre as reixas,
deixara-o espotreado
para o resto da sua vida.

8
As condicions inhumanas
do cárcere da cidade
de augas quentinhas das Burgas,
o seu coraçom gearem.

9
Malditos carcereiros,
sem ser eu, quem mal lhes queira,
seguro tenhem pagado
aquel mal que lhe fizeram.

10
A sua bondade meirande,
fixo-o que dera esse paso,
pois sendo um rapaz mais novo,
a pena seria menor.

11
Argimiro, de Argentina,
erguía o index da direita,
- Eladio Monea é assim !,
sempre sério el dizia.

12
So me rifara duas veces :
por maltratar uma nena
e por ser ladrom de vinho,
quando eu dez anos teria.

13
Ningumha das duas houvo.
Uma, queixa dumha inveja,
outra um roubo que nom fora,
fora uma embelenhada.

14
Nim vinho que eu roubara
nim meninha maltratada.
Non falamos ja mais delo,
tácitamente aceitavam,

15
que ja el me perdoara,
se havia causa de perdom.
El nom soportava os roubos
nim o de bater-lhe òs nenos.

16
- Hai um espelho na casa,
dixo umha vez òs pequenos,
e referindo-se a mim,
com um carinho ascondido.

17
Um amador das cantigas :
- Cantade polos caminhos,
quando saíam pra algures
dizia-lhe òs seus filhos.

18
Moi amante da poesia
e tamém dos doces vinhos,
um leitor de Rosalía
e do seu querido Curros,

19
com uma incrível memória,
tinha òs dous sempre no bico
em todas as festas que ía,
ía cantando as suas cancions.

20
Vendo morrer a tres filhos,
ver como ían por diante del.
Tantas penas e tanta dor,
ningum coraçom resiste.

21
Sementou um jardim de frores,
a metade delas mirrou,
a outra metade somos nós,
vivindo para contar-vos.

22
Sabendo que ja morria,
bem sabido, um bo home :
- imo-nos do val, dizia,
sua meirande santidade.

23
Agora vai seu coraçom,
de viageiro num cometa,
a cavalinho dum dragom,
pola eternidade toda.




Eladio Monea, marchou no cometa Hale-Boop o
23 de Abril de 1997  






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Bardo V : Luis de Olimpia


Luis de Olimpia
Bardo de Santomé


Sabes amigo Lois,
que se vas escrivindo
vas sacando a pasear
um mundo do interior !.

Um mundo de dentro teu,
que berra se nom sae.
Saem uns sentimentos
de paseo pola tua pel,

que coronam por sair.
Num paseo atopando
as muitas alegrias
e muito alouminho,

nas tuas próprias verbas,
cheias coa tua ánima,
que vam-te sorprendendo,
enchem-te de ledicia.

Sensacions que ti nunca
podias imaginar.
Um mundo de ilusions
que el soio é capaz

de vencer as desgrazas,
por moi grandes que sejam.
Capaces de derrotar
as penas mais profundas.

Capaces de apagar
a qualquer lume entom,
e capaces de acender
lumes de gran paixom.

Capaces de atopar
amores verdadeiros.
E entom bicas a vida,
sacas de paseo os beizos.

Noreas coa amizade.
Sonhas, lés e escreves.
Escreve muito, Luis,
escreve muito, amigo

Escreve, escritor !


A Luis de Olimpia






Moradelha editora




02/03/20

Pregom 17 : Rosquinhas de amor

Rosquinhas de amor

Vou fazer rosquinhas
coas minhas penas.
Vou-lhe botar açúcar
às minhas bágoas.

Vou banhar-me espido
no remanso do rio,
cantando umha alegre cançom,
namentres estou flutuando.

Cos olhos erguidos ò ceo
até que chegue o solpor e
me amostre o seu sanguento
feixe de cores vermelhas,

até que ja nom sinta dor algumha,
até que tudo seja repouso
doce, sereno e prácido,
em tanto nom chega o luar.

E entom hei de sentir-me
apertado polo universo infinito,
magnetizado e renovado
pola catarse duma nova vida.

Sairei da auga coma um home novo,
vendo um novo horizonte,
cheio de saúde e forteza,
batizado pola auga milagreira.

Ja nom saberei que som as penas,
so sentirei doçura nos beiços,
rosquinhas e melindres 
nos meus pensamentos.



Moradelha editora