05/11/20

Pregom 77 : A força das verbas

A força das verbas


Por fim chamou-me o meu amor,
e em vez de falar-me,
recitou-me um poema.
Eu morria de amor
ao sentir a sua voz.

Aquelas palabras suas,
aproveitando a felicitaçom,
dirom-me tanta força,
que eu choutava polos telhados.
Tanta força foi que colhim,
que eu seria capaz de fender
um toro de carvalho,
cum so golpe de machada,
apertar-me a um cepo de sobreira
e fundi-lo entros meus brazos,
entranto pensava nela.

Sentim que nom me queimava
com lume ningum,
nim com cousa algumha fervente,
nim me afogava na auga,
e poderia mergulhar
polo fondo do mar.
Podia falar cos paxarinhos,
que semelhava
que chiaram pra mim.

Quanta força tem a parola !,
meu Deus, pensei.
Quanta força tem o amor
e quanto amor
podem ter as verbas
que se dim coa ánima viva.
Saia-me um canto da gorja,
berrando-lhe aos quatro ventos,
que as rolinhas voavam
contentes arredor de mim,
e uma nuve de pombas
debuxavam coraçons no ceo.
Uns raios de sol
íam e vinham,
petando-me no peito
cum reflexo de retorno.

Abaneavam os pinheiros
ò sentirem a minha voz,
e bailavam as flores
polos jardins
coa música do vento,
e medrava a colheita
dum dia pra outro.

Tolinho de mim
nom sei se sonhava
ou estava desperto,
ou aquelo era tam só,
uma toleria de amor.
Tolinho de mim,
no daba durmido,
à espera do dia
de apertar-me a ela.
Tolo de mim, 
governei a fazenda,
coma se houvera uma boda,
esperando uma noiva,
esperando a um Deus.
Estade alerta, dizia a dita :
"... pois o Senhor virá
coma ladrom na noite."

Nom sei se sonhava
ou sonhava que sonhava,
aquelo nom podia ser certo,
e abriu-se a porta de súpeto,
cum gram resplandor,
aparecendo ela
vestidinha de branco,
e no médio do meu desconcerto,
caim redondo no instante.
Ali quedei, nom se sabe quanto,
até que espertou-me o Mundo,
lapando-me a face
co seu alouminho.

🌟



Moradelha editora

 

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