25/12/20

Pregom 96 : Siléncio do Nadal

 

Siléncio do Nadal
Universo calado



1
Escuitar teu siléncio,
doce son inaudível,
é música celestial
ondas de amor pola pel.

2
Uns susurros na mente,
calor do Lar nos braços,
uma alma aperta-me
no Universo calado.

3
Sinto-te no meu ventre,
como as minhas entranhas,
e tremem os meus beiços
co teu coraçom puro.

4
Coa alegria ao sentir-te, 
pechando-se meus olhos,
flutuo no ar, da tua man,
com familiar carícia.

5
Com memória de aromas
e suspiros eternos,
com divinas sensacions,
da humanidade a infáncia.

6
O principio dos tempos,
os recordos do néctar,
peito da Nai do Mundo,
arrepiado coraçom.

7
Formigas no pescozo,
calambreira no sexo,
é o climax do Mundo,
é um parto natural.

8
Um estoupo do tempo,
a mesma tosse de Deus,
o amor duma Deusa,
um éxtase que é mortal.

9
Os teus braços me matam,
devora-me o siléncio
e vou morrendo de amor
eterno, dentro de ti.

10
É obrigado cumplir,
hei fazer peniténcia,
muito tempo sem ouvir,
pois tua verba siléncia.

11
Nom poder mirar pra ti,
nim sequer nos meus sonhos,
nom seria siléncio,
senom a morte em vida.

12
Seria escuridade,
insofrível castigo,
um tormento e tortura,
toleria, amargura.

13
Esta vida perdoo,
por uma aperta eterna.
Vida que foi caminho
para estar a tua beira.

14
E nascem dous meninhos
em duas puntas do Mundo.
Renasce a humanidade,
amence um Novo Mundo.


🌟



Moradelha editora



12/12/20

Pregom 92 : Mundo em garda

 
Mundo em garda
(agardando)


Eu nom me ponho em garda contra o Mundo,
que se ponha o Mundo em garda contra mim.
Ja traguei i enviei tudo o veleno,
que me botou, quando perdido me vim.

Quando cuspirei pola minha língua
ou pola minha pluma, todo esse fel ?.
O Mundo quedará sem sua armadura,
em garda contra mim, nom há valer-lhe.

Por qué é tam desafiante o Mundo ?
e a quem lhe tem medo todo o mundo ?
Tempo há que meu próprio Mundo tenho
i é duma cor branca, de neve pura.

É uma gram folerpa que vai flutuando
ingraveda, seus cristais cheios cores,
coma um arco da velha presentando-se,
a luz do vento solar, reflejando.

O meu Mundo que fai-se-me doce,
coa tua preséncia, na minha vida.
Adoro alí, onde nasce uma estrela,
entro ceo e o mar, marelo amencer.

Onde atoparei a eterna morada,
onde por sempre hei de habitar com Ela,
coa nossa divinidade céltica,
nossa Deusa do amor e da poesia. 


***


Moradelha editora




29/11/20

Pregom 88 : A minha silveira


 A minha silveira


1
Nom pasedes pola fouce
minha fermosa silveira,
nim lhe deades um couce
ao agarimo da sobreira.

2
Mantenza de paxarinhos
que com tino se lhe pousam,
engurrunha os seus espichos
pra que aninhar nela poidam.

3
Do meu caminho alegria,
um vergel das abelhinhas,
quando vem a primavera,
ela churindo rebenta.

4
Nom matedes as suas cores,
verde, roja e negra froita
brancas e fértiles flores,
polo setembro colheita.

5
Nom trepedes a silveira,
defende-se de calquera
que loitar com ela queira,
agardunha coma fera.

6
Se matades minhas silvas
matades-me a mim a vida
gardai a fouce pra sega
nom seguedes a silveira.

7
Se eu uma chiba tivera,
daria-lhe os seus retonos
e as suas crezenzas daria
e assim limpar os caminhos.

8
Se me chimpades as silvas
nom virám as bolboretas,
nom virám as primaveras
ata o caminho das veigas.

9
Enfermará a sobreira
coa gelada do inverno,
e nom terám abelotas
as rolinhas pra o seu ninho.

10
Nim lhes medraram ovinhos
e morreram de tristuras,
sem lhes nascerem pitinhos
ò quedarem sem amoras.

11
Nom lhe pasedes a fouce
à fermosa silveirinha,
sabendo que nom dá flores,
coma um neno berraria.

12
Sabendo nom daria froitos,
quando no tempo do outono,
eu ò meu amor lhe levo
as amoras num queipinho.

13
Nom me chimpedes as silvas
que hei de fazer marmelada
coas morinhas da silveira,
que eu herdei de Rosalia.

14
E gardarei-na num cristal,
num recuncho da adega,
e ò meu bem regalar-lhe-a
quando chegue o dia de Nadal.

15
Tamem lhe darei òs nenos
com pam milho no dia de reis,
para que nom pasem frio
entranto jogam nas airas.

16
Nom pasedes a silveira 
por uma fouce afiada,
deixai-lhe a primavera,
pois ela é minha vida.

17
Eu quero seguir vivindo,
pois de pena morreria,
se nom a vira churindo
no pé da minha sobreira.


***



Moradelha editora



12/11/20

Pregom 81 : Soidá

 Soidá


Se eu poidera apertar à soidá
e deixar o que mais quero, no ceo estar,
correria sem pensar onde ela está,
sabendo que alumea minha vida.

Se eu poidera navegar no alto mar,
levaria-te comigo soidá,
alí onde se junta o ceo e a auga,
desprecintar o nosso Lar, soidá.

Agora conformo-me co que tenho,
sabendo que há um Mundo novo, a esperar.
Hei de atopar a maneira ou jeito,
de fundir o que mais quero, sem mancar.

Se eu poidera habitar-te soidá,
pra sentir o que é a paz e amor sem par,
e morrer saturado de tenrura
i envolto na tua alma, soidá.

Se eu poidera vivir coa soidade,
ir rindo polos caminhos e cantar.
Segredos, contos e verdades contar,
disfrutando da melhor amizade.

Imagino vivindo coa soidá,
e so coas flores entom poder falar,
so auga dos regatos poder bicar,
e so o arume nos ventos apertar,
so à minha soidá poder amar.


- 🌹 - 




Moradelha editora





09/11/20

Pregom 80 : Planeta do rio Sar

 
Planeta do rio Sar
e a Estrela Rosalia


Hai estradas de cores no Planeta do Sar,
coma arcos da velha e tridimensionais.
Tem uma cúpula magnética no seu ar,
que filtra a fortíssima luz da sua estrela Nai.

Quando entras na atmosfera do gigante do Sar,
tódalas cousas som mágicas e celestiais.
So vivindo nos sonhos, nela podes entrar,
alí o Mundo move-se so coas tuas sinais.

Pode-se ver o que a tua imaginaçom queira,
o que mais che cobice, tamém pode-lo ter,
so tés que deixar-te voar à tua maneira
e aparecerá a gentinha que ti queiras ver.

Com quem queiras falar, eles onda ti viram,
podendo aparecer em todo tempo e lugar.
Teus queridinhos todos, onda ti viviram,
disfrutando as paisagens que ti queiras mirar.

Ti vivirás voando coa tua imaginaçom,
no teu próprio Mundo, no teu Planeta do Sar,
o teu Lar, feito a medida da tua ilusom.
Paradiso de sonhos, onde sem ás voar.

E sempre girando arredor de Rosalia,
a estrela amarela, a poetisa e Sol do Sar.
A luz que sai dela, enche de cores à via
que geram os arcos da velha, que fam sonhar.

Um Universo sonhado pola poetisa,
que rabeaba polas cores da sua terrinha
e sempre esforzava-se em describi-las.
Quem lhe diria, que hoje seria uma estrela.

Se botaras os teus sonhos ò vento a voar,
imaginando um Mundo de cores ideal,
feito de poesia e do que queiras levar,
entrarias alá, no Planeta do rio Sar.

                         🌟



Moradelha editora




05/11/20

Pregom 77 : A força das verbas

A força das verbas


Por fim chamou-me o meu amor,
e em vez de falar-me,
recitou-me um poema.
Eu morria de amor
ao sentir a sua voz.

Aquelas palabras suas,
aproveitando a felicitaçom,
dirom-me tanta força,
que eu choutava polos telhados.
Tanta força foi que colhim,
que eu seria capaz de fender
um toro de carvalho,
cum so golpe de machada,
apertar-me a um cepo de sobreira
e fundi-lo entros meus brazos,
entranto pensava nela.

Sentim que nom me queimava
com lume ningum,
nim com cousa algumha fervente,
nim me afogava na auga,
e poderia mergulhar
polo fondo do mar.
Podia falar cos paxarinhos,
que semelhava
que chiaram pra mim.

Quanta força tem a parola !,
meu Deus, pensei.
Quanta força tem o amor
e quanto amor
podem ter as verbas
que se dim coa ánima viva.
Saia-me um canto da gorja,
berrando-lhe aos quatro ventos,
que as rolinhas voavam
contentes arredor de mim,
e uma nuve de pombas
debuxavam coraçons no ceo.
Uns raios de sol
íam e vinham,
petando-me no peito
cum reflexo de retorno.

Abaneavam os pinheiros
ò sentirem a minha voz,
e bailavam as flores
polos jardins
coa música do vento,
e medrava a colheita
dum dia pra outro.

Tolinho de mim
nom sei se sonhava
ou estava desperto,
ou aquelo era tam só,
uma toleria de amor.
Tolinho de mim,
no daba durmido,
à espera do dia
de apertar-me a ela.
Tolo de mim, 
governei a fazenda,
coma se houvera uma boda,
esperando uma noiva,
esperando a um Deus.
Estade alerta, dizia a dita :
"... pois o Senhor virá
coma ladrom na noite."

Nom sei se sonhava
ou sonhava que sonhava,
aquelo nom podia ser certo,
e abriu-se a porta de súpeto,
cum gram resplandor,
aparecendo ela
vestidinha de branco,
e no médio do meu desconcerto,
caim redondo no instante.
Ali quedei, nom se sabe quanto,
até que espertou-me o Mundo,
lapando-me a face
co seu alouminho.

🌟



Moradelha editora

 

01/07/20

Pregom 40 : Mil bolboretas

Mil bolboretas


De ouro era o penedo,
de prata eram as augas,
e coma neve branquinho, 
aquel anjinho sentado.

Um anjo coas aas brancas,
quem estava agardando.
Giravam mil bolboretas, 
que arredor íam voando.

Ata que ao sair o Sol,
coma se aquelo fora del,
fundiu todo cos seus raios,
enviando o brilho aquel.

Porque mil já eram os dias,
levava o anjo agardando,
a que uma Deusa vinhera,
e o bicara nos beiços.

Forom uns raios de Sol
os que vinherom faze-lo,
fundindo anjo e penedo,
onde nazeu um acivro.



Moradelha editora




16/05/20

Bardo VI : Bardo da Língua


Ricardo Carvahlo
Bardo da língua



Sagitário

"Docíssima visom.
Visom angélica.
A música que soa é produto da maos celestiais,
de bocas celestiais,
que pulsam, que sopram,
orgaos, frautas de outro mundo.
Há muita gente na igreja,
mas toda é umha nuvem borrosa,
como si os meus olhos estivessem desenfocados.
O sacerdote, o seu acólito,
os padrinhos, o noivo ...
E as imagens. A Virgem do Socorro,
o Cristo dos Navegantes, Santa Luzia ...
Todos som umha confusa e ondulante massa de luz,
de som ... Nada é nédio, nada tem perfil,
todas as cousas se misturam ...
Todo é vago fundo,
indeterminado segundo termo ...
Só ela se destaca,
se perfila com replandecente precisom,
envolta em branca luz, toucada branca luz ...
Alí está de joenhos perante o altar,
com as pálpebras entornadas sobre os olhos,
de noite profundíssima, pálida e virginal.
mais fermosa que o mais fermoso sonho."


Scórpio, 1a parte, LXIX .
Ricardo Carvalho Calero

17 de Maio de 2020
Dia das Letras Galegas




Moradelha editora



25/04/20

Bardo IV : Eladio Monea


Eladio Monea
Bardo da cadea


1
Paracuellos del Jarama,
desgrazada e histórica.
A guerra civil colheu-no
com catorze aninhos alá.

2
Rapacinho de olhos azuis,
e afundidos, coma seu pai,
celestes coma as hortensas,
a cor das frores celestiais.

3
Fazedeiro e pacífico,
ainda que se cumpria,
quem se pugera diante,
calcava uma labazada.

4
Defensor dos seus queridos.
-Se estivera eiqui Eladio !,
dizia seu irmao Dario,
quando tinha algum tropezo.

5
Xosé, o seu irmao maior,
o maioral das quadrilhas,
levava-o de vrao a Castela
cos irmaos e outros da aldea.

6
Com algo mais de vinte anos,
um na cadea votouche,
seica por encobrir outros,
so, no cárcere de Ourense.

7
Aquel ano tam maldito,
esse tempo entre as reixas,
deixara-o espotreado
para o resto da sua vida.

8
As condicions inhumanas
do cárcere da cidade
de augas quentinhas das Burgas,
o seu coraçom gearem.

9
Malditos carcereiros,
sem ser eu, quem mal lhes queira,
seguro tenhem pagado
aquel mal que lhe fizeram.

10
A sua bondade meirande,
fixo-o que dera esse paso,
pois sendo um rapaz mais novo,
a pena seria menor.

11
Argimiro, de Argentina,
erguía o index da direita,
- Eladio Monea é assim !,
sempre sério el dizia.

12
So me rifara duas veces :
por maltratar uma nena
e por ser ladrom de vinho,
quando eu dez anos teria.

13
Ningumha das duas houvo.
Uma, queixa dumha inveja,
outra um roubo que nom fora,
fora uma embelenhada.

14
Nim vinho que eu roubara
nim meninha maltratada.
Non falamos ja mais delo,
tácitamente aceitavam,

15
que ja el me perdoara,
se havia causa de perdom.
El nom soportava os roubos
nim o de bater-lhe òs nenos.

16
- Hai um espelho na casa,
dixo umha vez òs pequenos,
e referindo-se a mim,
com um carinho ascondido.

17
Um amador das cantigas :
- Cantade polos caminhos,
quando saíam pra algures
dizia-lhe òs seus filhos.

18
Moi amante da poesia
e tamém dos doces vinhos,
um leitor de Rosalía
e do seu querido Curros,

19
com uma incrível memória,
tinha òs dous sempre no bico
em todas as festas que ía,
ía cantando as suas cancions.

20
Vendo morrer a tres filhos,
ver como ían por diante del.
Tantas penas e tanta dor,
ningum coraçom resiste.

21
Sementou um jardim de frores,
a metade delas mirrou,
a outra metade somos nós,
vivindo para contar-vos.

22
Sabendo que ja morria,
bem sabido, um bo home :
- imo-nos do val, dizia,
sua meirande santidade.

23
Agora vai seu coraçom,
de viageiro num cometa,
a cavalinho dum dragom,
pola eternidade toda.




Eladio Monea, marchou no cometa Hale-Boop o
23 de Abril de 1997  






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Bardo V : Luis de Olimpia


Luis de Olimpia
Bardo de Santomé


Sabes amigo Lois,
que se vas escrivindo
vas sacando a pasear
um mundo do interior !.

Um mundo de dentro teu,
que berra se nom sae.
Saem uns sentimentos
de paseo pola tua pel,

que coronam por sair.
Num paseo atopando
as muitas alegrias
e muito alouminho,

nas tuas próprias verbas,
cheias coa tua ánima,
que vam-te sorprendendo,
enchem-te de ledicia.

Sensacions que ti nunca
podias imaginar.
Um mundo de ilusions
que el soio é capaz

de vencer as desgrazas,
por moi grandes que sejam.
Capaces de derrotar
as penas mais profundas.

Capaces de apagar
a qualquer lume entom,
e capaces de acender
lumes de gran paixom.

Capaces de atopar
amores verdadeiros.
E entom bicas a vida,
sacas de paseo os beizos.

Noreas coa amizade.
Sonhas, lés e escreves.
Escreve muito, Luis,
escreve muito, amigo

Escreve, escritor !


A Luis de Olimpia






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02/03/20

Pregom 17 : Rosquinhas de amor

Rosquinhas de amor

Vou fazer rosquinhas
coas minhas penas.
Vou-lhe botar açúcar
às minhas bágoas.

Vou banhar-me espido
no remanso do rio,
cantando umha alegre cançom,
namentres estou flutuando.

Cos olhos erguidos ò ceo
até que chegue o solpor e
me amostre o seu sanguento
feixe de cores vermelhas,

até que ja nom sinta dor algumha,
até que tudo seja repouso
doce, sereno e prácido,
em tanto nom chega o luar.

E entom hei de sentir-me
apertado polo universo infinito,
magnetizado e renovado
pola catarse duma nova vida.

Sairei da auga coma um home novo,
vendo um novo horizonte,
cheio de saúde e forteza,
batizado pola auga milagreira.

Ja nom saberei que som as penas,
so sentirei doçura nos beiços,
rosquinhas e melindres 
nos meus pensamentos.



Moradelha editora






18/01/20

Bardo II : Moncho

Bardo do Grove

Amigo Moncho:

Seica estám-te a fazer as invernacions.

Agora andas pola Ria de Pontevedra,
peró sei que che presta mais a de Arousa.
Agarra-te à maior marinheiro
e pom rumo às Pedras Negras.

Logo imos ir às navalhas e
mercar uns mexilhons na lonja do Grove.
Encargaremos uma empanada de xoubas
e jantaremos ò pé da tua gamela.

Depois navegaremos pola ria,
co arrecendo do ar,
na tua gamelinha 
atá Sam Vicente do Mar.


A Moncho Soutullo, marinheiro, amigo, irmao.

Peixinhos do mar


Moradelha editora





15/01/20

Bardo I : A chambra de linho


Bardo de Santomé



".. estavam às ordens de Adrasto e Anfio,
de coraça de linho : ambos eram filhos de
Mérope Percosio, que conhecia como
ninguém o arte adivinhadeiro e nom queria
que os seus filhos foram à homicida guerra;
peró nom lhe obedecêrom .. "

A Ilíada, Homero



Scarborough fair

A Eladio Monea, fillo



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