29/11/20

Pregom 88 : A minha silveira


 A minha silveira


1
Nom pasedes pola fouce
minha fermosa silveira,
nim lhe deades um couce
ao agarimo da sobreira.

2
Mantenza de paxarinhos
que com tino se lhe pousam,
engurrunha os seus espichos
pra que aninhar nela poidam.

3
Do meu caminho alegria,
um vergel das abelhinhas,
quando vem a primavera,
ela churindo rebenta.

4
Nom matedes as suas cores,
verde, roja e negra froita
brancas e fértiles flores,
polo setembro colheita.

5
Nom trepedes a silveira,
defende-se de calquera
que loitar com ela queira,
agardunha coma fera.

6
Se matades minhas silvas
matades-me a mim a vida
gardai a fouce pra sega
nom seguedes a silveira.

7
Se eu uma chiba tivera,
daria-lhe os seus retonos
e as suas crezenzas daria
e assim limpar os caminhos.

8
Se me chimpades as silvas
nom virám as bolboretas,
nom virám as primaveras
ata o caminho das veigas.

9
Enfermará a sobreira
coa gelada do inverno,
e nom terám abelotas
as rolinhas pra o seu ninho.

10
Nim lhes medraram ovinhos
e morreram de tristuras,
sem lhes nascerem pitinhos
ò quedarem sem amoras.

11
Nom lhe pasedes a fouce
à fermosa silveirinha,
sabendo que nom dá flores,
coma um neno berraria.

12
Sabendo nom daria froitos,
quando no tempo do outono,
eu ò meu amor lhe levo
as amoras num queipinho.

13
Nom me chimpedes as silvas
que hei de fazer marmelada
coas morinhas da silveira,
que eu herdei de Rosalia.

14
E gardarei-na num cristal,
num recuncho da adega,
e ò meu bem regalar-lhe-a
quando chegue o dia de Nadal.

15
Tamem lhe darei òs nenos
com pam milho no dia de reis,
para que nom pasem frio
entranto jogam nas airas.

16
Nom pasedes a silveira 
por uma fouce afiada,
deixai-lhe a primavera,
pois ela é minha vida.

17
Eu quero seguir vivindo,
pois de pena morreria,
se nom a vira churindo
no pé da minha sobreira.


***



Moradelha editora



12/11/20

Pregom 81 : Soidá

 Soidá


Se eu poidera apertar à soidá
e deixar o que mais quero, no ceo estar,
correria sem pensar onde ela está,
sabendo que alumea minha vida.

Se eu poidera navegar no alto mar,
levaria-te comigo soidá,
alí onde se junta o ceo e a auga,
desprecintar o nosso Lar, soidá.

Agora conformo-me co que tenho,
sabendo que há um Mundo novo, a esperar.
Hei de atopar a maneira ou jeito,
de fundir o que mais quero, sem mancar.

Se eu poidera habitar-te soidá,
pra sentir o que é a paz e amor sem par,
e morrer saturado de tenrura
i envolto na tua alma, soidá.

Se eu poidera vivir coa soidade,
ir rindo polos caminhos e cantar.
Segredos, contos e verdades contar,
disfrutando da melhor amizade.

Imagino vivindo coa soidá,
e so coas flores entom poder falar,
so auga dos regatos poder bicar,
e so o arume nos ventos apertar,
so à minha soidá poder amar.


- 🌹 - 




Moradelha editora





09/11/20

Pregom 80 : Planeta do rio Sar

 
Planeta do rio Sar
e a Estrela Rosalia


Hai estradas de cores no Planeta do Sar,
coma arcos da velha e tridimensionais.
Tem uma cúpula magnética no seu ar,
que filtra a fortíssima luz da sua estrela Nai.

Quando entras na atmosfera do gigante do Sar,
tódalas cousas som mágicas e celestiais.
So vivindo nos sonhos, nela podes entrar,
alí o Mundo move-se so coas tuas sinais.

Pode-se ver o que a tua imaginaçom queira,
o que mais che cobice, tamém pode-lo ter,
so tés que deixar-te voar à tua maneira
e aparecerá a gentinha que ti queiras ver.

Com quem queiras falar, eles onda ti viram,
podendo aparecer em todo tempo e lugar.
Teus queridinhos todos, onda ti viviram,
disfrutando as paisagens que ti queiras mirar.

Ti vivirás voando coa tua imaginaçom,
no teu próprio Mundo, no teu Planeta do Sar,
o teu Lar, feito a medida da tua ilusom.
Paradiso de sonhos, onde sem ás voar.

E sempre girando arredor de Rosalia,
a estrela amarela, a poetisa e Sol do Sar.
A luz que sai dela, enche de cores à via
que geram os arcos da velha, que fam sonhar.

Um Universo sonhado pola poetisa,
que rabeaba polas cores da sua terrinha
e sempre esforzava-se em describi-las.
Quem lhe diria, que hoje seria uma estrela.

Se botaras os teus sonhos ò vento a voar,
imaginando um Mundo de cores ideal,
feito de poesia e do que queiras levar,
entrarias alá, no Planeta do rio Sar.

                         🌟



Moradelha editora




05/11/20

Pregom 77 : A força das verbas

A força das verbas


Por fim chamou-me o meu amor,
e em vez de falar-me,
recitou-me um poema.
Eu morria de amor
ao sentir a sua voz.

Aquelas palabras suas,
aproveitando a felicitaçom,
dirom-me tanta força,
que eu choutava polos telhados.
Tanta força foi que colhim,
que eu seria capaz de fender
um toro de carvalho,
cum so golpe de machada,
apertar-me a um cepo de sobreira
e fundi-lo entros meus brazos,
entranto pensava nela.

Sentim que nom me queimava
com lume ningum,
nim com cousa algumha fervente,
nim me afogava na auga,
e poderia mergulhar
polo fondo do mar.
Podia falar cos paxarinhos,
que semelhava
que chiaram pra mim.

Quanta força tem a parola !,
meu Deus, pensei.
Quanta força tem o amor
e quanto amor
podem ter as verbas
que se dim coa ánima viva.
Saia-me um canto da gorja,
berrando-lhe aos quatro ventos,
que as rolinhas voavam
contentes arredor de mim,
e uma nuve de pombas
debuxavam coraçons no ceo.
Uns raios de sol
íam e vinham,
petando-me no peito
cum reflexo de retorno.

Abaneavam os pinheiros
ò sentirem a minha voz,
e bailavam as flores
polos jardins
coa música do vento,
e medrava a colheita
dum dia pra outro.

Tolinho de mim
nom sei se sonhava
ou estava desperto,
ou aquelo era tam só,
uma toleria de amor.
Tolinho de mim,
no daba durmido,
à espera do dia
de apertar-me a ela.
Tolo de mim, 
governei a fazenda,
coma se houvera uma boda,
esperando uma noiva,
esperando a um Deus.
Estade alerta, dizia a dita :
"... pois o Senhor virá
coma ladrom na noite."

Nom sei se sonhava
ou sonhava que sonhava,
aquelo nom podia ser certo,
e abriu-se a porta de súpeto,
cum gram resplandor,
aparecendo ela
vestidinha de branco,
e no médio do meu desconcerto,
caim redondo no instante.
Ali quedei, nom se sabe quanto,
até que espertou-me o Mundo,
lapando-me a face
co seu alouminho.

🌟



Moradelha editora