13/12/22

Pregom 110 : Falsas sinais

 
Falsas sinais 


Nom podo ser confiante
de pantasmas e anónimos.
Tés que seguir umas sinais, 
sabendo-as argalhadas ?.

Até onde chega o discernimento ?.
Que barreiras hai que chimpar ?.
Hai um instinto harmonioso ?.
Somos um hertziano recetor ?.

A paixom gera algum campo,
elétrico ou térmico ?,
magnético ou gravitatório,
frequéncias nos ouvidos ?.

Fluxos polos pés e pernas,
polos dedos das mans, nos braços;
correntes nos hemisférios,
zumbidos no coraçom ?.

Decodificarei a modinho
as sinais, verdadeiras ou nom,
que meu pobre espírito,
mailo miolo, dé decifrado.

🌟



Moradelha editora




28/10/22

Pregom 109 : Memória

 

Memória


O pensamento que nasce num sonho
e que da memória desaparece,
até que algumha cousa que acontece,
recorda o pensamento mailo sonho.

A tenrura que nasce na nossa alma
pola contemplaçom duma beleza
e que inesperada a nós se aparece,
gravando-se-nos no miolo.

Namentres que no Mundo amence
e teu coraçom nom fenece,
as tuas alegrias sempre medram
e tés o sorriso constante.

Nossos recordos imos ir tecendo,
alimentado com eles os sonhos,
e tapando as penas co pelo cano
desfazemos ataduras das mágoas.

Que nom me quede nunca sem memória,
de súpeto sem história, ser ninguém
e nom ter cousa algumha para contar.
Que nom me esqueçam as auroras.

🌟



Moradelha editora




19/10/22

Pregom 108 : Siléncio e verdade

 

Siléncio e verdade


Somente é obrigatório
dizer a verdade,
quando se fala.

Temos direito 
a nom dizer verdade,
estar calado.

Mas entom o siléncio
oculta a verdade,
queda esquecida.

O siléncio
é um caixom
de verdade escondida
no fondo da gorja,
pechado com alentos
e suspiros.

A verdade
brilha nos beiços,
relumbra nos olhos,
acaroa coas mans
e tem colorido,
flutua no ar.

A verdade tem
sempre problemas :
Falam os olhos,
a mirada fala,
as mans falam
e o corpo está cheio
de linguagens,
de mensagens;
todo o corpo fala.

A verdade sabe ler
na luz e na escuridade.
O que brilha demais,
apaga-o.
O que tem muita negrura,
acende-o.

O siléncio fala
é fala forte,
ressoa por onde passa
quando a cousa vai quente.

O siléncio e um trono
na tormenta
quando esconde mentiras.
É um raio
no médio duma traiçom.

O siléncio é a Nada
que todo o destapa,
é anterior ao Big Bang,
anterior ò Verbo.
O siléncio é o Tao,
a Nai do Mundo.

Penso em vós
gardando siléncio
pra nom perder detalhe
do que flue,
do que arde,
do que fai tremer 
à minha alma.

Penso em vós 
cum amor de verdade,
silencioso,
com muito medo
que meu corpo estrale.

Tenho medo
em romper o siléncio,
medo de que estoupe
o Mundo
por minha causa,
com tanto querer.
Penso que 
ao ver-vos
hei de morrer.

🌟



Moradelha editora




15/10/22

Pregom 107 : Verdes recordos

 

Verdes recordos,
esperanças


1
Amores verdes de loureiro,
de impossível verde desamor,
dum verde demasiado forte.

2
Dos prados verdes em repouso
entras montanhas regaladas.
Portas verdes nos corredores.

3
Fiestras verdes da juventude,
de aires renovados, alegres,
de muitas fermosas histórias.

4
Recordos verdes limonados,
verde limom, limom de estrela,
a lima dum Sol hiperbóreo.

5
Amores de verdes boreais
com mensagens do Sol e do além,
contidos nos raios solares.

6
Sedutora luz das estrelas,
luz que todo amor alumea,
a verde luz da Nai do Mundo.

7
Deusa das nossas terras verdes,
dos verdes castros, nossa Deusa,
a vida da verde Brigantia.

8
Memória de verde saudade,
de oculta morrinha calada,
de ledícia, tenro recordo.

9
Sonhos de fumes dissolvidos
em enigmáticas brétemas,
co fumegar da erva de campo.

10
Verde duma viva esperança,
envolvida na verde paixom
dos azivros de primavera.

11
Pendentes de verde esmeralda,
de ágatas com augas verdes
e de transparentes ilusons.

12
O verdor da frescura verde.
Sonhos de verde luminoso,
dos eidos verdes remolhados.

13
Verde verdadeiro, de paixom,
de amores i esperança eternos,
baixo as estrelas, juramentos.

14
Amor de verdes impossíveis,
sonhos dum excessivo verde
em tempos de fogosas rosas.

15
Tempo de utópica vontade,
de doces e verdes recordos,
o tempo da verde esperança.

🌟



Moradelha editora




15/09/22

Pregom 106 : Cabeçal

 

Cabeçal


Se vés que estou dormente,
colhes a minha chave
da caixa de Pandora
em baixo do cabeçal.

No seu fondo atoparás
uma boneca verde,
que chama-se Esperança;
aperta-la bem forte.

Entom durme ti tamém;
quando estejas durmindo,
pergunta-lhe a Morfeu
se podes vir onda mim.

El diráche quem som eu
e onde me atoparás.
Assim será como nós
viviremos no Olimpo.

🌟



Moradelha editora




04/09/22

Pregom 104 : Cores da auga

 

Cores da auga


Numa lagoa verde
hai trés cisnes brancos
e um cisne negro.

E num rio geado,
um patinho pardo
que patina e corre.

Prateados salgueiros
erguem as suas ponlas
ondas augas claras
do nosso ribeiro,
que correm,
que descansan,
que remansam.

Rios e fontanas
e fontes a mares,
lagos e lagoas,
choivas polos regos
e regatos.

Arroios nos vales,
terra regantia
de poços e poças,
arroiadas,
nascementos.

Granizo e saraiva,
geos e geadas,
brétemas do amencer,
branca neve.

Fervenzas de escuma
repenicam doces
nas pedras dos muinhos,
sua música.

Grises nevoeiras,
nevoas que fumegam,
nuve negra,
auga mera.

Bágoas de meninho,
bagos com rocio,
arcos da velha
entros milhos.

Trés quartos da Terra
enchidos por bágoas,
de mim bágoas,
sal e augas.

Amores e paixom,
charco e charca,
poço e poça,
moço e moça,
gota ou pinga.

Escarchas e geos,
brilhos de folerpas,
mananciales,
orvalhadas.

Augas milagreiras,
de xofre marelas,
ferrosas de rubi
ou lameiras.

Augas entupidas,
florcinhas de junco
nadam na marisma,
nas junqueiras.

Rio e tributário
caminho do golfo
da cor esperança,
sua baía.

Um pai e seu filho
vam caminho do mar,
descanso turquesa,
na oceania.

🌟



Moradelha editora




24/08/22

Pregom 103 : Mergulhado

 

Mergulhado
na tua alma


Hoje durmirei convosco,
pide-me-o o pensamento,
nom poderei evita-lo,
a razom nom pinta nada.

Mergulhado na tua alma
fragmentarei-me em estrelas,
e coa tua luz tam radiante
apertarei o Universo.

E no teu peito tam quente,
terei vento perfumado,
com música magnética
e a tua doçura presente.

Um bafejo de siléncio,
uma intriga e um mistério,
sem saber se é que sonho
ou se habito no ceo.

🌟



Moradelha editora




23/08/22

Pregom 102 : Disfarces

 

Disfarces


Vendedores de prazeres,
de floristas disfarzados,
aponhendo-se escritores
e ofrecendo afrodisíacos
no aparador da luxúria.
Jogadores do ocultismo,
buscadores de lascívia,
cambiando o amor por cartos.
Perfumes de narcóticos
para que espantem aos noxos.
Uns disfarces coloridos
com ornatos dos entroidos.
Tocata e fuga co prémio,
coa riqueza, sem receios.
Atores de pomposa obra,
escenários luxuriosos.
Ao gusto dumas carteiras,
os amores confitados,
cheia de bicos comprados
polos anónimos leitos.

🌟



Moradelha editora




02/07/22

Pregom 101 : Marquesinha

 

Marquesinha


Um home de altos voos,
mira-me de reolho,
do braço duma mulher,
que sequer fijo esguelho. 

Escusou olhar para mim,
dona de alto copete
e de chapéu florido.
Dama moi distinguida.

Ela nada num mar de cartos 
i eu na auga das fontes,
em pozas e fervenças,
entras leiras de milho.

Com elegante vestimenta,
ilustrada palavra
e delicados movimentos
de frágil boneca de louça.

Nossa marquesinha é uma mulher
que gasta colónia custosa
e o dia da primeira feira
canta a coro na igreja.

E fai obras de caridade,
nom tem pecado ningum,
sempre os tem perdoados.
É uma santa onde as haja.

Eu já sei, marquesinha,
som pessoa ordinária, 
aborrida e mediocre,
nom che convem minha amizade.

Levarei-no com resinaçom
o nom ser merecedor de vós,
sequer do vosso saúdo.
Do querer nom falemos.

🌟



Moradelha editora