12/01/21

Bardo VII : Deusa poetisa

 

Deusa poetisa
perigosa doçura


1
Os amargos segredos
que gardas no coraçom,
velaí as armas som,
duma invencível Deusa.

2
Som coitelos que ardem
no teu divino peito,
pra matar os pesares
e rachar o pasado.

3
A feiticeira do Amor,
que sae dum pesadelo,
cumha estampa imponente,
caindo o Mundo aos seus pés.

4
Olhos de loba em ciúme,
jeito de gram Matriarca,
espertas coa tua força,
escampas do ceo as nuvens.

5
Beleza e juventude,
nova na madureza,
brilha coma uma estrela
e as almas adormece.

6
A ledícia do Mundo,
cumha face de seda.
Tem da Lua o sorriso
e um encanto de meiga.

7
Ramalhete de rosas,
onde chegas pareces,
alumeando a quem miras,
bem-dizindo a quem tocas.

8
Tua armadura de ouro,
relumbra no teu peito.
O que todos adoram
é a tua divina estampa.

9
Vira-te nos meus sonhos,
ando presto a buscar-te
e quem serás saberei,
se um dia eu te atopo.

10
Pilotando tua nave
chegarás ao meu porto,
quando vendo-te ao longe,
voarei o teu encontro.

11
E rendidinho aos teus pés,
falareiche devoto :
Minha Deusa poeta,
meu amor, minha vida.

12
É sua man quem escreve
o que eu lhe quero dizer.
Seu coraçom lateja
no meu peito bem forte.

13
Eu agardo por Ela,
pra ver um Novo Mundo,
pra morrer nos seus beiços,
renascer nos seus braços.

🌟



Moradelha editora




09/01/21

Pregom 100 : Vive, esperança

 

Vive, esperança


1
Desbordada alegria
entre desconhecidos.
Os seus corpos sem rostro,
dous amantes nas ondas.

2
Amores de pantalha,
um amor de fachada.
Comprensions dubitosas
òs queixumes e penas.

3
Alguns consehos podres,
cheios de bicos a granel.
Voces desconhecidas,
mirada inexistente.

4
Uns acenos valeiros
e apertas num debuxo
com tintas regaladas,
pra retratos prestados.

5
Copyright de soberba,
autoestima fictícia.
Aviso a navegantes :
o que vedes nom é meu.

6
Ula ! amizade real !,
os bicos dados na pel,
os tremores do amor,
a vergonça infantil.

7
Os chamados profetas,
esses gurus sem rostro
ou paisagem por cara,
metedores de medo.

8
Nuvens melancólicas,
recordos que nom forom,
dum pasado que nom foi,
nim tam sequer ideal.

9
Esse Mundo inventado,
coma um conto calquera,
dando-lhe muito brilho
cum velho farricalho.

10
Os deportes de salom,
baile de mascarilhas,
muito fume de estrelas
num aire que te afoga.

11
Pesadelos na rede,
som choiva multimédia,
uma insónia estressante,
uma neve artificial.

12
Íntimos do direto,
dos messagens ocultos,
entre desconhecidos.
Confessions anónimas.

13
Uma feira de ánimas
e de persoalidades.
Som negócios de fume,
uns mercados nefastos.

14
Intercanviar mentidas,
traficando com poemas.
Tapadeira de sonhos
e de complicidades.

15
Cheia de provocacions,
bem delas trapalheiras.
Uma cheia de insinuacions,
muitas envelinadas.

16
Amizades sem olhos, 
que em porrancho na ducha,
compartem o seu sabom
e sem poder-se tocar.

17
Cegos cos olhos vivos,
fermosos corpos virtuais.
Bicos de corta e pega,
que entre escumas desfam-se.

18
Vós saberedes de mim
pola voz regalada.
Sempre levo conmigo
o micrófono aberto.

19
Tamém a minha webcam,
conmigo sempre viaja.
Escusa bateria,
arrinca automática.

20
Ao ter boa companhia,
deteta a sua preséncia.
Reconhece um amigo
acendendo a luz do flash.

21
Quero ir polo Mundo
sem que nada me oculte.
Quero ser transparente
como é um meninho.

22
Ensinar meus defeitos,
sem reparar em ninguém.
Hei errar quando cumpra,
tendo tino e nom mancar.

23
Ulos ! beiços ardendo !,
e as mans tremorosas,
as bágoas cristalinas,
os bicos namorados.

24
Ulo ! o teu caminhar.
Ula ! a sexta feira.
e ula minha Deusa ?,
radiante médio-dia.

25
Eu vestim-me de verde
para darche uma aperta
e levo pra ti na man, 
sete rosinhas brancas.

26
Quando vejas meus olhos,
eu quero que ti vejas
a luz da esperança,
dumha ilusom eterna.

27
Quando mires para mim,
eu ja sei que em ti verei
a imponente figura
da minha Nai do Mundo.

28
Sempre quero ver em ti
o teu jeito de Musa.
Sempre quero ver em ti,
um sorriso de estrela.

🌟






Moradelha editora




01/01/21

Pregom 98 : Manoel



 Manoel


1
Choravam os teus beiços
umas bágoas vermelhas.
Quem fora Manoel Curros
para poder ama-las.

2
Cos seus versos sorve-las,
num amor imposível,
como augas que saloucam,
por ideal incrível.

3
Para cativas morrer
nas minhas mans desertas,
contemplando a lagoa
de Manoel Bueno mártir.

4
Uma doce morada
para as augas salgadas,
que nom poidera bicar
uma alma namorada.

5
Hoje é um de janeiro
do nosso ano de Gloria,
é o dia primeiro
dum porvir de esperança.

6
Destino inexorável,
é o que eu sonho será.
No teu pelo um caravel,
cheirando-o eu a manhá.

7
Pois volvendo ao sendeiro,
que me leva direito,
numha vida trazada
polo lápis mágico.

8
Que apuntando ao caminho,
que me leva sem perda,
que sem presa vou indo,
que me leva sem pausa.

9
Pra fundir-me em teu peito
e sem presa nim pausa
devorar teu alento,
habitar minha musa.

10
Entom tua man hei colher,
que me fura por dentro
e sentir a tua voce,
pra morrer de contento.

11
Hei os teus olhos mirar,
dous luzeiros ardendo.
A tua alma, apertar,
beber-me o Universo.

12
Eu pola tua man, Manoel,
escreveria uns versos,
que seriam eternos,
que saberiam ò mel.

🌟



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